O negro em Mangaratiba

Quem caminha pelas ruas de Mangaratiba, desde Itacuruçá até Conceição de Jacareí, nota, com facilidade, que nossa população fixa é, em sua maioria, negra ou parda. Isso se deve ao fato de, nas origens do nosso município, aqui ter sido um dos principais portos do tráfico de escravos. Eram as terras do Comendador Joaquim José de Souza Breves, figura lendária do Brasil Imperial, que ficou conhecido como "rei do café". Ganhou o apelido pela gigantesca a produção em suas fazendas, que se estendiam desde Mangaratiba até o Vale do Paraíba. Só no ano de 1860 produziu cerca de 54.000 toneladas de café, contando com a impressionante mão-de-obra de seis mil escravos. Na fazenda da Marambaia, o Comendador criou um verdadeiro entreposto do tráfico. Os escravos, desembarcados dos "navios negreiros" permaneciam na ilha, para recobrar as forças perdidas na travessia do Atlântico. A Marambaia era uma estação de engorda. Quando em condições de trabalho, os escravos seguiam para as fazendas, ou eram vendidos no entreposto da praia do Saco, ou da pedra do Sahy. Esse, que foi o maior escravagista do século XIX no Brasil, faleceu em 30/09/1889, dezesseis meses após a Lei Áurea. Menos de dois anos depois, Mangaratiba deixou de existir como município, sendo rebaixada à categoria de vila. Entretanto, seis meses depois, recuperou sua condição de município.

Com o fim da escravidão e o abandono das terras por parte dos descendentes do Comendador, diversos núcleos de ex-escravos permaneceram no município, destacando-se os que se dedicaram à agricultura, na Serra do Piloto e os que ficaram na Marambaia, onde passaram a depender da pesca. Usavam canoas a remo, fabricadas por eles mesmos ou compradas, e redes confeccionadas por eles próprios. Durante décadas, o produto desse trabalho foi vendido na praia de Itacuruçá, de onde seguia, de trem, para o entreposto da praça XV, no Rio de Janeiro.

Sob a inspiração do Trabalhismo de Getúlio Vargas, nos anos 30 do século XX, foi instalada, na Marambaia, a Escola de Pesca Darcy Vargas, iniciativa de Levi Miranda, com o apoio do presidente e da Fundação Cristo Redentor. O lema adotado era: uma casa e uma canoa a motor para cada pescador”. A esperança de prosperidade veio com as novas instalações, hospital, fábrica de gelo e de sardinha e casas para funcionários. Foi assim, até o início dos anos 70, quando houve o fechamento da escola de pesca e a chegada do CADIM – Centro de Adestramento e Instrução da Marinha.

Hoje, os descendentes desses ex-escravos enfrentam o desafio da disputa pela regularização de 1,6 mil hectares dos 8,1 mil hectares da ilha com a Marinha. Apesar da certificação da Fundação Palmares e do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), os militares querem instalar uma base de submarinos no local e recorreram à Justiça para expulsar os quilombolas. Além de impedir a reforma das casas, controlam, com mão de ferro, o acesso de parentes e amigos dos moradores e não reconhecem a legitimidade de seus descendentes, como no episódio da instalação do programa “Luz para Todos”, onde apenas 95, das 270 famílias foram beneficiadas.

 

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